Novo estudo do Climate Policy Initiative/ Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio (CPI/ NAPC)
Destaques do estudo
- Os serviços financeiros disponíveis para produtores rurais brasileiros são determinados pela estrutura dos canais de distribuição de crédito, e não apenas pelo potencial agrícola das regiões.
- Os canais de distribuição de crédito no Brasil são caracterizados por numerosas regras, diversas fontes de recursos e condições de financiamento complexas. Além disso, as instituições financeiras encontram-se concentradas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
- A desigualdade dos canais de distribuição gera incertezas adicionais aos produtores rurais, que precisam gerenciar seus fluxos de caixa e riscos financeiros.
- O sistema atual também não contribui para alavancar o potencial do Brasil para investimentos e obtenção de ganhos de produção.
- O novo estudo do CPI/ NAPC recomenda que os serviços de crédito e os canais de distribuição se tornem mais apropriados às necessidades dos produtores e ao potencial agrícola de suas áreas.
Na atividade agropecuária, produtores rurais, em geral, precisam cobrir custos de produção antecipadamente. Mesmo que, durante a colheita, tenham superado os riscos climáticos, eles ainda enfrentam riscos de mercado que ameaçam sua capacidade de recuperar os custos e obter lucro. Assim, o acesso aos serviços financeiros é crucial para os agricultores brasileiros. O crédito pode dar aos produtores rurais os recursos de que precisam para planejar e minimizar os riscos.
No entanto, os serviços de crédito disponíveis aos produtores rurais no Brasil são determinados pela estrutura dos canais de distribuição de crédito (como bancos e cooperativas) e não somente pelo potencial agrícola das regiões. Pesquisadores do Climate Policy Initiative/ Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio (CPI/ NAPC), em parceria com o Banco Central do Brasil, destacam implicações importantes do desenho do sistema sobre os produtores e sua capacidade de antecipar e lidar com riscos.
“Embora o crédito rural seja uma política crucial para apoiar os produtores, ele foi criado quando o perfil da agricultura brasileira era bastante diferente”, argumenta Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/ NAPC, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e um dos autores do estudo. “Precisamos entender como os serviços financeiros podem melhor atender às necessidades dos produtores”.
No Brasil, agências bancárias e cooperativas são os canais de distribuição mais importantes para o crédito rural, mas há variação em como os recursos são distribuídos entre as localidades, o que deixa produtores com diferentes opções de crédito dependendo de onde vivem. O estudo do CPI/ NAPC ressalta três aspectos desse desafio para formuladores de políticas e instituições financeiras:
- Fontes de recursos são numerosas e diversas e os recursos disponíveis em cada uma flutuam consideravelmente ano a ano;
- Cada fonte de recursos e programa de crédito obriga os bancos e cooperativas a seguirem um conjunto específico de regras e requisitos; e
- Áreas agrícolas menos desenvolvidas no Brasil têm acesso mais limitado a instituições financeiras.
O estudo mostra que instituições financeiras estão bastante concentradas em algumas áreas do Brasil, apesar de os cinco milhões de beneficiários do crédito rural estarem espalhados por todo o país. Conforme a figura abaixo ilustra, agências bancárias e cooperativas estavam majoritariamente localizadas nas regiões Sul e Sudeste do país no ano agrícola 2015/2016. Nas áreas rurais, as instituições financeiras tendem a se localizar onde a produção agropecuária é maior. Assim, produtores que vivem em regiões menos produtivas e que provavelmente mais precisam de crédito subsidiado são exatamente aqueles que têm menos acesso a ele.
Agências, cooperativas de crédito rural e agropecuária no Brasil
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Essa distribuição geográfica também cria ineficiências na alocação de crédito rural porque há grande variação no volume de crédito emprestado pelas instituições aos produtores. Os três principais bancos – Banco do Brasil, Itaú e Bradesco – e cooperativas de crédito ofereceram mais de três quartos de todo o crédito rural no ano agrícola 2015/2016. Como resultado, o total de recursos disponíveis para os produtores baseou-se, em parte, em sua proximidade com essas instituições financeiras.
Em última análise, esse sistema heterogêneo frequentemente resulta em um desajuste de oferta e demanda de crédito em todo o país, além de aumentar a incerteza para os produtores rurais e reduzir sua capacidade de lidar com o risco. Também é provável que diminua o potencial do Brasil para investimentos e obtenção de ganhos de produtividade agrícola.
O estudo do CPI/ NAPC recomenda que os serviços de crédito e os canais de distribuição se tornem mais apropriados às necessidades dos produtores e ao potencial de suas áreas agrícolas, com investimentos adequados para impulsionar a produtividade.
“Entendemos que este é um primeiro passo importante para compreender como o acesso ao crédito rural afeta os produtores”, diz Assunção. “A próxima etapa consistirá em trabalhar com o Banco Central do Brasil para quantificar e medir o real impacto dos canais de distribuição de crédito rural sobre os produtores”.
Acesse o estudo: https://goo.gl/8A5yAX.
Comunicação
Mariana Campos
mariana.campos@cpirio.org
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