Em 2022 farão dez anos que o trabalho clássico de Spracklen e coautores[1] foi publicado. Esse trabalho apresentou evidências de que florestas tropicais são indispensáveis para a manutenção da chuva em diversas regiões do mundo, incluindo a Floresta Amazônica e seu impacto em chuvas em quase todo o Brasil, incluindo Mato Grosso e os estados do Sul. Esse mecanismo já havia sido explorado desde os anos 1990, mas a simplicidade desse novo trabalho parecia ser capaz de convencer os mais céticos sobre a importância da floresta.
No entanto, passados dez anos, observamos a volta de recordes históricos na taxa de desmatamento na Amazônia. Nesse cenário, as projeções futuras de desmatamento, utilizadas pelos autores para calcular alterações nos regimes de chuva, parecem otimistas. Não é surpresa, portanto, que os jornais reportem enormes perdas do agronegócio devido às secas.
Se a ciência continuar sendo ignorada na próxima década, os efeitos das secas podem até ser amenizados com políticas caras de crédito e compensações. Se seguirmos esse caminho, em 2032, esse texto poderá ser relido e a mesma mensagem se aplicará, exceto talvez que o custo de amenizar as secas se tornará mais pesado do que o país pode suportar. Há, porém, um caminho inteligente. A próxima década pode ser utilizada para aprender as lições até então ignoradas e para aplicar as ferramentas existentes.[2] Para isso, precisamos parar de repetir o passado.
[1] Spracklen, D. V., Arnold, S. R., & Taylor, C. M. (2012). Observations of increased tropical rainfall preceded by air passage over forests. Nature, 489(7415), 282-285. go.nature.com/3AsyQsu
[2] Araujo, Rafael. Mapeando o Efeito do Desmatamento nas Chuvas: um Estudo de Caso do Estado de Mato Grosso. Rio de Janeiro: Climate Policy Initiative, 2021. bit.ly/33Ge7FM