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Novo estudo estima perda de milhões de reais para o setor elétrico. 

O desmatamento na floresta Amazônica pode já ter gerado uma perda de até 10% na capacidade de geração de energia e no lucro das usinas hidrelétricas em todo o Brasil. Das 20 hidrelétricas com maior capacidade de geração de energia do Brasil, 17 estão expostas ao mecanismo dos rios voadores. A conclusão é do novo estudo do Climate Policy Initiative/PUC-Rio e do Amazônia 2030.   

“O impacto do desmatamento na Amazônia ultrapassa a área desmatada, produzindo efeitos negativos nas esferas ambientais, sociais e econômicas a quilômetros de distância do bioma. A conservação da floresta é de grande relevância para a matriz elétrica nacional e para a economia do país.”, diz Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio e coordenador do Amazônia 2030.  

A hidroeletricidade é a principal fonte de geração do sistema elétrico brasileiro, representando 60,2% da geração total de energia em 2023. Pesquisadores analisaram os efeitos do desmatamento na Usina Hidrelétrica de Teles Pires, em Mato Grosso, e estimaram uma perda de geração de energia entre 2,5% e 10%. Isso corresponde à oferta de energia para, pelo menos, 330 mil pessoas. Considerando o preço de venda de energia, o desmatamento gerou uma redução média de R$ 118 milhões na receita anual da hidrelétrica.  

Mas os efeitos do desmatamento na geração de energia não se restringem aos limites do bioma Amazônia. Pesquisadores demonstram que a perda de vegetação prejudica a produção de três usinas hidrelétricas (UHE) situadas na Bacia do Paraná. Mesmo distante do bioma Amazônia, o desmatamento na floresta pode provocar uma perda de cerca de 3% na capacidade de geração de energia e em torno de 10% de perda de lucro anual.   

A perda potencial da UHE Salto, situada em Goiás, é de 13 GWh e de R$3,5 milhões por ano. A UHE Salto do Rio Verdinho, também em Goiás, tem perda potencial de 9 GWh e R$ 2,7 milhões por ano. Já a UHE São Domingos, localizada em Mato Grosso do Sul, tem perda potencial de 3,5 GWh e R$ 1,3 milhão por ano.   

“O combate ao desmatamento é uma questão de segurança energética. Dada a relevância da hidroeletricidade na matriz elétrica brasileira e as regiões afetadas pelo nexo desmatamento-perda de geração, a alteração no padrão de chuvas em decorrência do desmatamento pode impactar significativamente, e em grande escala, a sustentabilidade do sistema hidrelétrico.”, diz Gustavo Pinto, analista sênior do CPI/PUC-Rio.   

A longo prazo, poderá haver ainda outros impactos: aumento do preço de energia e maior demanda por usinas térmicas, com prejuízos ao meio ambiente.  

Floresta e geração de energia  

A floresta Amazônica exerce grande influência sobre os padrões de chuva, através do mecanismo conhecido por rios voadores. 

 “Os rios voadores são as correntes de ar carregadas de umidade que transportam água a partir da Amazônia e margeiam o leste da Cordilheira dos Andes no sentido norte-sul, garantindo o abastecimento de rios e a irrigação das plantações. Quando as correntes de ar passam por áreas desmatadas, elas perdem umidade com mais facilidade, o que diminui a incidência de chuva ao longo do trajeto das correntes de ar. Como consequência, a vazão dos rios é reduzida, o que diminui a capacidade de geração hidrelétrica nas usinas.”, explica Assunção.  

O estudo aponta que as correntes de ar provenientes do Oceano Atlântico atravessam a Amazônia e seguem para regiões onde se encontra parte substancial das usinas hidrelétricas brasileiras. A perda de vegetação florestal impacta diretamente a produtividade de 17 das 20 usinas de maior capacidade do país, como mostra a figura abaixo.     

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Pesquisadores identificaram que preservar a área da floresta Amazônica que exerce influência na geração de eletricidade na UHE Teles Pires tem valor de, em média, R$ 13 mil/km². Se focarmos nos 5% de área mais relevante para a geração de energia da usina, o valor sobe para R$ 33,6 mil/km².   

Em relação às usinas da Bacia do Paraná, os valores dos 5% de área de floresta mais relevante para a geração de energia das usinas de São Domingos, Salto e Salto do Rio Verdinho são R$ 60/km², R$ 143/km² e R$ 105/km², respectivamente.  

“O mapeamento dos principais pontos da Amazônia que contribuem para a manutenção da segurança energética do país é fundamental para direcionar políticas de conservação e proteção da matriz elétrica nacional. É importante também a participação dos agentes do setor elétrico na conservação e restauração da floresta.”, diz Pinto.  
 

O estudou analisou ainda o perfil da malha fundiária da área florestal que mais influencia a geração de eletricidade das UHEs. No caso de Teles Pires, Terra Indígena é a principal categoria fundiária (41,6%), seguida de floresta não destinada (18,5%). No caso das UHEs da Bacia do Paraná, imóveis rurais privados cadastrados no Sigef é a principal categoria (40%), seguida por Terras Indígenas (20%).   

“A Amazônia é composta por um mosaico de categorias fundiárias. Então é crucial considerar os perfis fundiários para identificar políticas e mecanismos de financiamento mais efetivos para a conservação e/ou restauração das áreas mais relevantes para a geração de energia, que sejam adequados às necessidades de cada contexto.”, destaca Joana Chiavari, diretora de pesquisa do CPI/PUC-Rio.   

Sobre o Climate Policy Initiative/PUC-Rio 
O Climate Policy Initiative (CPI) é uma organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, que possui sete escritórios ao redor do mundo. No Brasil, é afiliado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O CPI/PUC-Rio atua no aprimoramento de políticas públicas e financiamento climático no Brasil através de análises baseadas em evidência e de parcerias estratégicas com membros do governo, da sociedade civil, do setor privado e de instituições financeiras. 
 
Para mais informações, entre em contato com
Camila Calado Lima 
camila.lima@cpiglobal.org 
(86) 99966-0560

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