Mudança climática afeta a produção de soja no Brasil e cobertura de seguros ainda é insuficiente.
Rio de Janeiro, 10 de abril de 2023 – As mudanças climáticas têm afetado a produção agropecuária brasileira, provocando expressivas quebras de safra. Dados do IBGE revelam queda de 1,7% na agropecuária no ano de 2022, em comparação a 2021. No ano agrícola 2021/2022, a forte estiagem levou as indenizações a crescerem mais de quatro vezes em relação à safra anterior, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). O aumento da frequência de eventos climáticos adversos tem aumentado as indenizações do seguro rural e reduzido a oferta disponível, deixando os produtores rurais com menor cobertura. A conclusão é do novo estudo do Climate Policy Initiative/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio), que constrói um mapeamento sobre o seguro rural no Brasil e propõe ações efetivas para a segurança da agropecuária brasileira, diante das mudanças climáticas.
O estudo concentra-se na cobertura da soja. Além de o Brasil ser o maior produtor mundial, a soja é também a maior produção agrícola nacional e o produto mais segurado. A produção de soja tem se expandido no país, mas os produtores estão cada vez mais sujeitos a uma série de riscos climáticos que podem gerar perdas de produção. Algumas localidades estão mais expostas a riscos do que outras, devido à diversidade climática e geográfica do país. Pesquisadores do CPI/PUC-Rio identificaram que o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o noroeste do Rio Grande do Sul e o oeste do Paraná apresentam grande produção de soja e alta variabilidade na produtividade, um possível indicador de instabilidade associada a eventos climáticos.
Os instrumentos de gerenciamento de risco ajudam os produtores rurais a se protegerem dos riscos naturais. O estudo mostra que a cobertura de seguro rural da soja ainda está concentrada nas Regiões Sul e Centro-Oeste. A Região Sul concentra 60% do número de apólices e 43% do valor dos prêmios, apesar de concentrar 37% do valor produzido de soja entre 2006 e 2018. A Região Centro-Oeste responde pela maior parcela de área plantada (45%) e valor produzido (44%), mas concentra 20% das apólices de seguro e 34% dos prêmios pagos, no mesmo período.
Apesar da recente expansão da produção de soja e do setor de seguros em regiões como o Matopiba, o crescimento da cobertura na região não aconteceu de modo proporcional. A Região Nordeste apresenta proporção similar de área plantada (8%), valor produzido (8%) e prêmios de seguro rural (9%), mas apresenta uma proporção maior no volume de indenizações (18%). Isso sinaliza que a região possui um alto risco de perdas.
“Adotar práticas modernas e sustentáveis, que contribuirão para a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas, requer investimentos consideráveis, e os produtores precisam de instrumentos financeiros adequados para lidar com os riscos envolvidos. A oferta de seguros deve ser expandida para produtores e regiões com acesso limitado a produtos financeiros e que são mais vulneráveis a eventos climáticos. Esse é o caso, por exemplo, do Matopiba”, explica Priscila Souza, gerente sênior de pesquisa do CPI/PUC-Rio e coordenadora do estudo.
A cobertura de seguros para soja se expandiu nos últimos anos. O número de municípios com seguro aumentou em 22% entre 2008 e 2018, entretanto mais de 1.000 municípios ainda persistem sem nenhuma cobertura de seguros. O estudo identificou que há grandes regiões produtoras de soja com baixa cobertura de seguros, como é o caso de boa parte do estado de São Paulo, do oeste de Santa Catarina e de parte do norte do Rio Grande do Sul.
Além de Priscila, Mariana Stussi e Wagner Oliveira também desenvolveram o estudo. Os pesquisadores investigaram as variáveis climáticas mais relevantes para explicar as perdas na produção de soja. Os resultados indicam que a soja no Brasil é afetada principalmente por secas e chuvas excessivas. As variáveis climáticas de precipitação, risco de fogo e vento influenciam a probabilidade de estiagem e de ocorrência de perdas. Maiores índices de risco de fogo estão relacionados a maiores riscos de seca. E a ocorrência de chuvas fortes e tempestades está associada ao excesso de precipitação e à velocidade elevada do vento.
“Identificar essas variáveis climáticas é importante para a previsão de perdas futuras e, por conseguinte, para orientar a implementação de políticas públicas e de ações efetivas por parte das seguradoras. O governo deve estimular a expansão do seguro rural, investindo no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), reduzindo o custo de aquisição das apólices, aprimorando o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) e fortalecendo o mercado de resseguros no Brasil. Num cenário de maior risco, as resseguradoras se tornam cada vez mais importantes.”, conclui Priscila Souza.
Acesse o estudo completo: bit.ly/DesafiosDoSeguroRural
Sobre o CPI
O CPI é uma organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, que possui seis escritórios ao redor do mundo. No Brasil, é afiliado à PUC-Rio.
O CPI/PUC-Rio apoia políticas públicas climáticas no país, através de análises baseadas em evidência e parcerias estratégicas com membros do governo e da sociedade civil.
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